Mensagem de boas vindas ( Orvalho do Sertão. Autor: Luiz Esposto)
O Orvalho do Sertão
Hoje retornei ao início. Engraçado dizer assim, mas é isso mesmo. Depois de trinta dias de reflexão, hoje era o grande dia!
Talvez como fazia o mestre Zaratrusta quando isolava-se no alto de uma montanha para encher-se de luz – foi assim durante este período. Vaguei por ruas e ruas, caminhei por estradas e vi as mais belas paisagens, mas não esqueci daquela que descobri ser a mais completa – A escola.
Durante o período de férias a escola se torna um paraíso, não é? Mas sem as maçãs, pois são elas que a tornam realmente um paraíso. Estive alguns dias na escola e só ouvia-se uma única palavra: silêncio – costumo dizer que é no silêncio que surgem os grandes diálogos. Mas fiquei horas sentado ali no pátio observando cada pedacinho de chão. Este é o meu Sertão !
Confesso que não achei graça. Mas minha tarefa naquele dia era encontrar uma frase de boas vindas, como se elas ali já não estivessem – elas as maçãs, o fruto proibido! E eu tentando encontrar palavras para o Retorno. Mesmo assim rateio: elas não saíram – estão lá, nós é que não percebemos.
O retorno, ou melhor, o primeiro dia depois das férias é um movimento costumeiro para muitos e ainda há aqueles que digam:
- Acabaram-se as férias, acabou o meu sossego!
Hoje fiz diferente. Levantei antes do sol aparecer. Quis apresentá-lo ao dia antes mesmo dele nascer. Escolhi a melhor roupa, o perfume é o de sempre. Tomei café saindo do bule e corri para a rua. Chegamos juntos eu e o dia!
A Escola ainda vazia... ninguém sabia o que eu queria, mas eu estava ali, ansioso pelo ritual que começaria em poucos instantes. Abri o armário vesti minha túnica e sentei.
Fechei os olhos e pude sentir lá de longe uma sensação indescritível. E foi assim entrando pela porta da escola, percorrendo cada corredor, abrindo portas e janelas e chegando ao meu coração – os passos, as risadas, os gritos, os abraços – As maçãs! Elas mesmas! O paraíso estava completo.
Eu pude experimentar esse ritual ali calado, em silêncio num grande diálogo. Comecei minha oração matinal.
Que eu tenha olhos para ver cada carteira espalhada e cada rosto suado
Que eu tenha mãos para recolher cada papel no chão e abrir cada porta
Que eu tenha voz, para chamar, mesmo que gritando, um por um e saber que todos estão presentes
Que eu tenha pernas para percorrer cada carteira em busca de uma resposta
Que eu tenha coração para ouvir cada vida pulsando dentro de mim.
E assim olhei para o dia que me trouxe a alegria mesmo antes dela nascer e caminhei entre os orvalhos do paraíso.
Ah, esqueci de revelar a frase que dediquei ao retorno:
“A escola é um edifício com quatro paredes e o amanhã dentro dele”
(Bernard Shaw, dramaturgo irlandês)
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