Redação sobre a água - textos de apoio


Solução para a sustentabilidade


A água de reúso é produzida dentro das Estações de Tratamento de Esgoto e pode ser utilizada para inúmeros fins, como geração de energia, refrigeração de equipamentos, em diversos processos industriais, em prefeituras e entidades que usam a água para fins não - potáveis. As empresas podem aproveitar o produto na cadeia produtiva e colaborar com a ampliação da oferta de água destinada ao abastecimento público, colaborando, assim, com a sustentabilidade ambiental. Vale ressaltar que todo processo de produção da água de reúso da Sabesp é assegurado pelo sistema de gestão ISO 9001:2000, obedecendo a rigorosos parâmetros de qualidade.
A importância da água de reúso
O uso responsável da água é fundamental não somente nas regiões metropolitanas, mas em todo o mundo. Cada litro de água de reúso utilizado representa um litro de água conservada em nossos mananciais. O assunto é tão importante que faz parte da Estratégia Global para Administração da Qualidade das Águas, proposta pela ONU, para preservação do meio ambiente. É uma maneira inteligente e capaz de assegurar que as gerações futuras tenham acesso a esse recurso tão precioso e essencial à vida: a água potável.
Redução do consumo de maneira inteligente e ambientalmente correta
Utilizar a água de forma mais racional não é somente uma questão de sobrevivência das empresas, mas de toda a humanidade. A Sabesp, preocupada com a escassez dos recursos hídricos, desenvolveu o Programa de Uso Racional da Água (PURA) que promove redução no consumo de água de sua empresa ou instituição. O trabalho abrange ações tecnológicas e mudanças culturais para a conscientização quanto ao correto uso da água.As soluções para diminuir o consumo de água são compostas de diversas ações como detecção e reparo de vazamentos, troca de equipamentos convencionais por equipamentos economizadores, estudos para reaproveitamento da água e palestras educativas. Em geral, o retorno do investimento é rápido ou até imediato.
O Programa pode ser aplicado em empresas, condomínios, comércio, instituições de ensino, hospitais e indústrias.

Confira os resultados nos locais onde ocorrem as intervenções do Programa de Uso Racional da Água (PURA):


Local
Economia no consumo
Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo
25%
Edifício de Administração Sabesp - ABV
72%
50 Escolas Estaduais da Região Metropolitana de São Paulo
40% (média)
Condomínio Comercial São Luís
16%
Condomínio Jardim Cidade
28%
Edifício Sede Sabesp
62%
Instituto de Pesquisa Tecnológica - IPT
53%
Secretaria do Meio Ambiente - SMA/Cetesb
47%
Universidade de São Paulo - USP (fase I e II)
26%
Universidade de São Paulo - USP (fase III)
37%

Vantagens do Programa:


Reduz o consumo e o desperdício de água, gerando uma economia de no mínimo 10% e em geral da ordem de 20 a 40%;
Conscientiza os empregados, terceiros e clientes sobre a preocupação com o meio ambiente, economizando água - um recursos natural escasso;
Agrega valor ao negócio, reduzindo despesas e custos operacionais;
Evidencia a responsabilidade socioambiental das empresas e seu esforço na construção da sustentabilidade;


Etapas


O Programa de Uso Racional de Água funciona de maneira clara e objetiva. São 3 etapas distintas para detectar e eliminar desperdício de água na sua empresa. 1. Diagnóstico Técnico Uma equipe da Sabesp vai até sua instalação, faz o levantamento de todo o processo de consumo e utilização de água, detecta pontos críticos e aponta a margem de economia possível. São projetados, ainda, os ganhos financeiros provenientes do trabalho, os benefícios e os prazos para o retorno do investimento. 2. Projeto Técnico Nesta fase, uma equipe especializada apresenta soluções para os pontos críticos identificados na etapa anterior e estabelece ações, investimento, prazo necessário para a execução de obras, treinamento de pessoal e modificação de processos. 3. Suporte Operacional A última etapa consiste na execução das obras necessárias e manutenção dos sistemas críticos, com adoção da tecnologia selecionada. Ao mesmo tempo, são realizados seminários e palestras de conscientização para funcionários buscando a mudança da cultura e dos hábitos de utilização da água.










Problemas Ambientais: diferentes graus de responsabilidade


O crescimento populacional sempre foi um dos aspectos principais envolvidos na discussão. Desde Malthus o binômio crescimento populacional/pressão sobre recursos, vem sendo constantemente retomado, sob diversas maneiras.
Entretanto, com a diminuição das taxas de crescimento populacional, que se verifica na maioria dos países do Mundo, especialmente no Brasil, essa questão adquire uma outra perspectiva. A concentração da população em determinadas regiões pode vir a se constituir, em um futuro não muito distante, em dificuldade para a sustentabilidade dessas regiões.
George Martine (1993), discutindo a relação entre população, meio ambiente e desenvolvimento, afirma que as questões ambientais que afetam de maneira mais direta o quotidiano da maioria da população brasileira deverão ser resolvidas no âmbito de espaços urbanos construídos ou em construção, e não em espaços naturais ou intocados. Segundo esse autor, o Brasil vai participar dos problemas ambientais globais, em grande parte, através do que ocorre em suas áreas de adensamento demográfico e não através de sua mata. Ou seja, a nossa contribuição para o efeito estufa e para a depleção da camada de ozônio, vai ocorrer principalmente no espaço urbano.
Martine, nesse texto, está preocupado em demonstrar que existem problemas ambientais globais (como efeito estufa, buraco na camada de ozônio, perda da biodiversidade) e problemas ambientais locais ou regionais, associados principalmente a situações de pobreza (falta de saneamento, condições inadequadas de moradia,...) e esgotamento de recursos naturais (água, solos,...). A responsabilidade por esses problemas é diferenciada também de acordo com as condições econômicas dos países.
Assim, os problemas ambientais globais, exceto no caso da perda de biodiversidade, seriam resultado, majoritariamente, do padrão de consumo dos países mais industrializados. Enquanto isso, os países menos industrializados estariam envolvidos em problemas como a desertificação, o desmatamento, enchentes, esgotamento de recursos naturais, além de problemas emergentes como poluição do ar e chuva ácida.
A contribuição relativa dos diferentes países para os diversos problemas ambientais apresenta-se de forma diferenciada. Atualmente, pode-se concluir que os países de industrialização mais avançada possuem a maior parcela de responsabilidade, provocando a maioria dos problemas ambientais mais sérios, como o efeito estufa, a diminuição da camada de ozônio e o acúmulo de lixo tóxico. De acordo com Martine (op.cit.), é justamente por isso que para os países desenvolvidos, o discurso neomalthusiano, relacionando os problemas ambientais apenas ao crescimento populacional, é mais tranquilizador porque "lhes evita ter que fazer um exame crítico da civilização industrial ou da sua responsabilidade na degradação ambiental global". (p.10)
Aos países menos industrializados cabe a responsabilidade sobre outros tipos de problemas como a desertificação, o desmatamento, as enchentes, o esgotamento de recursos naturais (particularmente da água), onde há uma relação mais direta da pobreza e do crescimento demográfico com o problema ambiental.
Portanto, não se pode atribuir o atual grau de degradação ambiental global apenas ao crescimento da população, mas principalmente aos padrões de produção e consumo que vêm caracterizando a industrialização e o consumo. Desse modo, Martine (1993b) indica que "a trajetória futura da problemática ambiental mundial dependerá basicamente da evolução de dois fatores: a) do grau de incorporação de países atualmente subdesenvolvidos aos padrões de produção e consumo que prevalecem nas sociedades industrializadas; b) do ritmo de desenvolvimento e adoção de tecnologias que permitam padrões de produção e consumo mais condizentes com o bem-estar ambiental, tanto nos países atualmente desenvolvidos, como naqueles que deverão se desenvolver durante o intervalo." (p.25)
Modernização: um modelo predatório e desigual
Uma das caracerísticas presentes desde o início do fortalecimento do movimento ambientalista, na década de 1960, é a crítica a um certo tipo de discurso característico da expansão capitalista: a modernização.
No âmbito da expansão do capital, modernização tem significado a implantação de indústrias e crescimento econômico a qualquer custo. Esse procedimento tem significado na prática uma exploração dos recursos ambientais no sentido de exaurí-los, além do aprofundamento das diferenças sociais.
No Brasil, conforme indica Torres (1993), os setores produtores de bens intermediários, como os minerais não metálicos, metalurgia, papel e celulose e química, foram os que apresentaram, na última década, os maiores níveis de crescimento na estrutura produtiva. Esses setores são mais poluentes e mais intensivos em recursos naturais, tendendo a se localizar em aglomerados urbanos, o que potencializa os impactos ambientais.
Franco et all (1994) estuda o caso emblemático do pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia. Resultado de todo um processo de expansão industrial que privilegiou, e até incentivou, a implantação de indústrias sujas e de alto risco no país, Camaçari é um exemplo claro de que nem sempre modernização e desenvolvimento tecnólogico implicam em melhoria de qualidade de vida.
Em Camaçari, conforme salienta Franco, as práticas de gestão industrial se pautam quase que exclusivamente pelo lucro, o que faz com que não sejam considerados elementos fundamentais como saúde e segurança dos trabalhadores, além de impactos ambientais causados pelas atividades desenvolvidas. Assim, o que acaba ocorrendo é uma apropriação privada dos lucros, que se materializa na expansão dos grandes grupos econômicos, e uma socialização dos custos, que implicam em sobrecarga sobre o sistema de saúde e seguridade, além dos investimentos necessários para a recuperação de recursos ambientais atingidos pela atividade econômica.
Franco chama atenção também para a faceta mais recente da modernização, que se configura na apropriação dos métodos organizacionais conhecidos como "modelo japonês". Esse modelo tem implicado em diminuição das garantias dos trabalhadores permanentes dentro das plantas das fábricas, além de riscos crescentes para os trabalhadores contratados pelo processo de terceirização. À medida em que esses trabalhadores terceirizados são "jogados" em plantas industriais sem treinamento, e portanto, sem conhecimento das regras básicas de segurança, há um aumento dos acidentes.
A poluição, os efeitos nocivos à saúde, a degradação ambiental manifestam-se inicialmente dentro da própria fábrica. Os trabalhadores, que estão envolvidos diretamente na produção, são exatamente aqueles que sentem primeiro os efeitos negativos do processo de modernização.
Participação Política: o papel regulador da sociedade organizada
Uma outra característica importante da perspectiva ambientalista é a valorização da participação popular. As organizações e os movimentos sociais possuem um papel fundamental e, através da pressão sobre as instâncias governamentais, podem diminuir situações de degradação ambiental.
Isso tem ocorrido principalmente em países mais industrializados, onde a chamada "opinião pública", associada a instituições da sociedade civil (movimento ambientalista, sindicatos, etc.), possuem poder e organização para impor limites e exigir mudanças nos processos produtivos poluidores.
Hogan (1993), depois de analisar a composição sócio-demográfica de Cubatão, conclui que não houve mobilização da população para evitar o agravamento da situação ambiental devido, entre outros elementos, às próprias características dessa população. O que fica patente, nesse trabalho, é a relação direta estabelecida entre a organização das camadas médias urbanas e sua sensibilidade às questões ambientais. Logicamente, não se pode negar que as camadas economicamente mais elevadas possuem maior possibilidade de organização e, consequentemente, maior peso nas decisões políticas. Entretanto, a mera existência de uma camada média, com potencial de organização para reivindicação, não garante que, efetivamente, haja organização e mobilização política.
Franco et all (1994) também elabora essa questão relativa à importância da organização democrática como reguladora dos efeitos negativos da indústria: "Os diferentes graus de risco deste tipo de indústria (química e petroquímica) em cada país e/ou região são determinados, essencialmente, por escolhas de práticas de gestão da produção e do trabalho, que resultam em relações de forças políticas em cada momento e lugar. Estas são expressas nas políticas públicas, nas práticas fiscalizatórias e na mobilização da sociedade civil, através das lutas travadas pelos sindicatos, organizações não governamentais e instituições públicas e privadas. " (p.69)
A elaboração de leis ambientais e sua efetiva implementação nos países mais desenvolvidos tem sido um dos elementos principais a serem considerados nesse processo de redistribuição das indústrias a nível global. Além da diminuição de custos com mão de obra e matéria prima, e dos incentivos fiscais oferecidos pelos governos dos países em desenvolvimento, a possibilidade de uma legislação ambiental "mais flexível" (para não dizer ineficaz) tem se constituído num chamariz importante para as indúsrias transnacionais.
A premência dos governos dos países menos desenvolvidos tem sido colocada na possibilidade de crescimento econômico (representado principalmente pela criação de empregos) que essas indústrias transnacionais oferecem. Em uma situação em que a crise de empregos parece adquirir proporções globais, são deixadas de lado questões que podem ter repercussões no médio e longo prazo, como as questões ambientais.
Nessa situação crítica de crise de empregos, a atuação e a força mobilizatória dos sindicatos sofre um grande impacto. Com isso, assume mais importância a luta pela manutenção das vagas nas indústrias, mesmo que os trabalhadores estejam sujeitos a situações de risco.
A questão da saúde do trabalhador (e da população em geral, que se encontra próxima às fábricas) fica, então, relegada a um segundo plano, enquanto o discurso oficial, segundo Franco et all (1995), "bastante afinado com certos organismos internacionais imputam os problemas de meio ambiente e de saúde nos países de terceiro mundo exclusivamente à questão do crescimento da população e seus atributos de pobreza e educação." (p.135)
Procuramos apresentar aqui alguns pontos da discussão ambiental, que apesar de bastante sintetizados, são suficientes para demonstrar a importância e a complexidade crescente da questão ambiental no mundo contemporâneo. Um mundo em que se entrelaçam aspectos globais com aspectos locais, compondo um emaranhado de relações sociais, políticas, econômicas e ambientais, que fazem com que a Terra se pareça cada vez mais com um organismo vivo. Um organismo vivo que depende em grande parte da espécie humana para continuar existindo.







Economia Mundial, Crescimento Populacional e Sustentabilidade Florestal
Celso Foelkel
www.celso-foelkel.com.br

www.eucalyptus.com.br

A recente crise financeira mundial do final do ano de 2008 escancarou para a sociedade humana mais uma verdade muito pouco conveniente. Nossa economia mundial precisa crescer a uma taxa média elevada, no mínimo entre 3 a 5% ao ano, para manter equilibrado o modelo de desenvolvimento vigente. Qualquer perda percentual de 1 a 2 pontos ao ano já é capaz de ocasionar enormes estragos para a população humana, tais como perdas de empregos, falta de alimentos, de combustíveis, de moradias, de segurança, etc.
A população humana vem crescendo também de forma indiscriminada e exponencial. Surpreendentemente, isso parece não causar preocupações a políticos (que querem mais votos) e a religiosos (que demandam mais fiéis). Quando Deus abençoou a humanidade e proclamou a famosa frase bíblica “Crescei e multiplicai-vos”, talvez não tenha se dado conta que levaríamos isso tão a sério. Apenas para uma ligeira reflexão comparemos:
 Na época de Jesus Cristo, a população mundial era de cerca de 300 milhões de pessoas, conforme estimam os historiadores;
 Em 1830 alcançou seu primeiro bilhão de pessoas;
 Em 1930, o segundo bilhão;
 Em 1975, o quarto bilhão;
 Em 1987, o quinto;
 Em 1999, o sexto;
 Em 2012, espera-se que atinja o sétimo bilhão.

Nas últimas décadas temos acrescentado um bilhão de pessoas no planeta a cada 12 a 14 anos, com um crescimento médio anual de 1,2%. Apesar da natalidade estar decrescente, também está aumentando a longevidade das pessoas. Com isso, aumentamos cada vez mais o nosso número, aumentando assim o potencial de predação aos recursos naturais.
O modelo econômico atual está baseado no pressuposto de que o crescimento da economia deve ser bem maior que o do crescimento vegetativo da população para poder funcionar. Como a geração de empregos diminui cada vez mais pelo avanço da tecnologia, não basta a economia crescer 1,2% ao ano, empatando com o crescimento populacional. É preciso crescer bem mais que isso para absorver as pessoas jovens que chegam ao mercado de trabalho e demandam posições para serem felizes. Essa verdade inconveniente foi ligeiramente mencionada por Al Gore em seu magnífico filme sobre as mudanças climáticas afetando o planeta Terra. Só faltou a ele dizer que deveríamos procurar mecanismos para evitar esse crescimento populacional desordenado e incompatível com a capacidade de absorção do planeta vivo Gaia.
Crescer entre 3 a 5% ao ano na economia tem um impacto fenomenal sobre a Natureza. São recursos naturais escassos e limitados sendo demandados cada vez mais intensamente. Mais terra, mais água, mais madeira, mais combustíveis, mais produtos industrializados, etc. etc. Qual o limite desse crescimento? Até onde conseguiremos chegar? Quando ocorrerão pontos de saturação? Quais chegarão primeiro?
Levando em conta essas realidades, temos que nos preparar e adequar nosso setor de base florestal para que não estejamos entre os causadores de predação irreversível à Natureza. Felizmente, temos um setor que se baseia em recursos naturais renováveis: sua matéria-prima madeira pode ser plantada e sua energia pode ser quase que totalmente originada de fontes renováveis (biomassa). Entretanto, temos também nossos impactos sócio-ambientais, inquestionáveis. Alguns são positivos, outros negativos. Isso é válido para nossas fábricas e para nossas florestas plantadas. Cabe a nós, que gerenciamos e operamos isso, minimizar os danos e maximizar os benefícios, de acordo estamos, não é mesmo?
Muitos ambientalistas de plantão se preocupam muito com nossas florestas plantadas. Às vezes, de forma exageradamente negativa; outras vezes, com justificadas razões. Uma coisa é absolutamente certa: precisamos plantar florestas para gerar recursos naturais renováveis e demandados por nossa sociedade, que transita dentro de uma economia que exige crescimento, como já vimos. Se esse modelo econômico atual é adequado ou não, esse é outro problema a ser resolvido, mas parece que não há muita pressa sobre isso. Demandará muito diálogo, reflexões, estudos, ações, negociações. Também exigirá muita avaliação e reflexão o tema crescimento populacional e as possíveis restrições a esse crescimento.
Portanto, se o nosso papel atual é o de plantar florestas para gerar bens de consumo sustentáveis para nossa crescente e demandante sociedade, temos que fazer isso muito bem, da melhor forma possível. O que estamos fazendo hoje é bom, não tenho dúvidas. Falamos muito e praticamos o que chamamos de bom manejo florestal, ou manejo florestal sustentável. Temos florestas plantadas certificadas, com adequada proteção ao solo, à biodiversidade, aos recursos hídricos. Entretanto, na vida sempre é possível se fazer melhor algo que estamos fazendo hoje. Sempre existirão oportunidades para melhorar. E também, ameaças para piorar, evidentemente. Não basta apenas o foco nas tecnologias operacionais e nos custos. Não basta apenas crescer rendimentos florestais sem atentar sobre a qualidade futura das áreas onde plantamos nossas florestas. Sejam elas de eucalipto, Pinus, acácia, teca, corticeira, bracatinga, álamos, plátanos, araucária, lenga, etc.
Quando escuto nossos entusiasmados técnicos florestais mencionarem que hoje no Brasil pode-se alimentar uma fábrica de 1 milhão de toneladas de celulose ao ano com apenas 100.000 hectares de florestas plantadas de eucaliptos com corte raso aos 6-7 anos (período da rotação), não posso deixar de ficar orgulhoso de nossos feitos tecnológicos e científicos. Entretanto, começo a ficar assustado quando ouço os mesmos técnicos dizerem que em pouco tempo mais teremos necessidade de apenas 80.000 hectares de plantações de eucalipto para alimentar uma fábrica de celulose de mercado de 1,3 milhões de toneladas, com rotação em talhadia simples com corte raso aos 5 anos. Rotações muito curtas começam a trazer problemas para o solo, não há como evitar ou compensar com fertilizantes minerais. Os problemas não são apenas de fertilidade, mas de umidade, estruturação, compactação, carbono orgânico, micro-vida, etc. Portanto, até quando poderemos usar tão intensamente essa terra sem exauri-la? O que estará reservado no futuro para essas terras, se esse tipo de manejo florestal intenso e localizado persistir?
Os ambientalistas mais ativos acusam a agricultura do café, do arroz, da laranja, da soja e da cana-de-açúcar de terem ou estarem exaurindo os solos do país. Agora se perguntam também, o que será das terras plantadas com eucaliptos e com Pinus? Nós do setor não podemos esperar para ver o que vai acontecer, mesmo que tenhamos evidências de que os impactos são mínimos. Conhecemos muito bem as melhores formas de proteger os solos, os recursos hídricos, a biodiversidade. Sabemos como minimizar esses impactos, embora com uma atividade em larga escala seja impossível se eliminar completamente muitos deles. Entretanto, sempre há a opção de se compensá-los, com outras medidas conservacionistas, tais como a manutenção de extensas áreas de preservação natural permanente, que hoje representam quase 50% das áreas totais das empresas florestais brasileiras.
Em relação ao manejo florestal das plantações, tenho falado e escrito muito sobre isso, gostaria de ver algumas coisas acontecendo com maior velocidade nesse particular. Algumas delas são relativamente simples, fáceis de serem implementadas e representam enormes ganhos ambientais para os ecossistemas florestais. Entretanto, sua implementação representa mudanças conceituais na gestão florestal, o que acabará retardando um pouco o processo. Por outro lado, elas acontecerão necessariamente, até porque a história estará sendo traçada nesse caminho. Resta apenas esperar ou sair na frente, fazendo o que de mais adequado se conhece em termos ambientais.
Dentre essas medidas de maior sustentabilidade aos nossos eco-mosaicos florestais tenho enfatizado as seguintes:
 Minimizar as ações antrópicas sobre as áreas florestais: quanto menos o homem interferir sobre o sítio florestal; quanto menos vezes ele se apresentar por ali para afetar o ambiente, melhor para o eco-mosaico produtivo arquitetado.
 Aumentar o comprimento da rotação florestal: quanto mais tempo a floresta plantada permanecer crescendo, mais efetiva será a ciclagem de nutrientes, melhor será a estruturação do solo, a micro-vida, os regimes hidrológicos, etc. Dentre os modelos de manejo hoje adotados, os baseados em rotações longas, com desbastes intermediários são indubitavelmente os mais ecoeficientes.
 Promover a rotação de culturas, preferencialmente utilizando espécies alternativas de leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio: uma fábrica de celulose de fibra curta pode perfeitamente ter seu suprimento de madeira baseado em eucalipto e acácia, por exemplo. Os plantios podem acontecer alternadamente em uma determinada área de terra. Eventualmente, essa mesma área pode ter um descanso após um certo período de uso produtivo, virando uma área de preservação permanente. Tudo dentro de um ecoeficiente planejamento, visando à sustentabilidade.
 Manter os restos de colheita sobre o solo florestal: cascas, galhos finos, folhas, ponteiros colaboram para melhorar o solo e os recursos naturais da área. Fico definitivamente apavorado com as tecnologias de rapinagem desse material todo por máquinas raspadoras de serapilheira para alimentar caldeiras de força ou biorefinarias de etanol celulose. Algo que lutarei contra, com todas minhas energias.
 Trabalhar sempre com tecnologias de mínimo impacto ambiental: preparo mínimo do solo, mínimo uso de agroquímicos, uso de fertilizante de compostos orgânicos de resíduos industriais, uso fertilizante de cinzas de caldeiras de biomassa, etc., etc.

Muitas vezes, o foco do gestor florestal se concentra na produtividade florestal e nos seus custos operacionais, considerando que pelo fato de já cumprir os preceitos recomendados pela certificação florestal, já está com diploma de ambientalista garantido. Eu já considero que devamos olhar primeiro o nosso fantástico eco-mosaico florestal com uma visão de helicóptero e encontrar as maneiras corretas de fazê-lo produtivo, mantendo a sustentabilidade almejada. Só uma questão do que focar primeiro - os objetivos de produtividade e de resultados econômicos serão mantidos em ambos os casos.
Portanto amigos, independentemente se a economia mundial nos continuar pressionando nas próximas décadas a continuar crescendo a taxas elevadas, podemos fazer isso com muito maior nível de sustentabilidade. Há maneiras e maneiras de se produzir florestas plantadas: a eleição será nossa, mas as conseqüências recairão não apenas sobre nós, mas sobre as gerações futuras também. Temos um nível de conhecimento disponível hoje que nos permite fazer bem - no futuro conheceremos mais e faremos ainda melhor. Temos que estar atentos e compromissados em praticar e não apenas falar em sustentabilidade. Queremos e precisamos de plantações florestais. Elas ajudam a proteger as matas naturais e a fornecer produtos e benefícios para a sociedade. Mas precisamos plantá-las e manejá-las com qualidade ambiental, com visão não só de presente, mas de futuro distante também.

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